Mouraria (Lisbon, Portugal)

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Mouraria is one of the oldest and most traditional neighbourhoods of Lisbon’s city centre which owes its name to the fact that in the 12th century the Moors were confined to this area after the first King of Portugal, Afonso Henriques, conquered the city in 1147. It is one of Lisbon’s quarters where Fado is said to have had its origins and it has always been a locus of migrants throughout the centuries: it hosted the Moors in the 12th century, the Galicians in the 18th century, Portuguese rural workers in the 19th and 20th centuries, residents from Portuguese-speaking African countries (PALOP) – Cape Verde, Mozambique, Angola, Guinea-Bissau and São Tomé and Princípe – after their independence in 1975 and, in recent decades, people from Eastern European and Asian countries (Ukraine, Russia, Romania and Moldova; China, India, Bangladesh and Pakistan) (Malheiros, 1996; Malheiros, Carvalho & Mendes, 2012, p. 99; Vietti, 2015, p. 81-82). The ‘super-diversity’ (Vertovec, 2007; Padilla & Azevedo, 2012) of this urban ethnic place (Mendes, 2012, paraphrasing Lin, 2011) has attracted many social and urban researchers (Gésero, 2012; Mapril, 2010; Mendes, 2012; Menezes, 2003, 2004, 2005, 2012; Malheiros et al., 2012; Padilla & Azevedo, 2012).

Nowadays Mouraria has a population of almost 6000 people, according to the 2011 Census (CML, 2012), and the neighbourhood spreads across different districts from the Martim Moniz square, one of the most renowned Mouraria’s migrantscapes (Gésero, 2012), to the top of the hill near St. Jorge’s castle. Its migrant population represents 24% of the total population (a significantly high number when compared to the 9% average in the city and the 4% average in the country), which accounts for a total of 51 different nationalities, the most significant from Bangladesh, India, China and Brazil, though members from Portugal’s ex-colonies also appropriate the neighbourhood’s spaces especially due to labour and commercial reasons (Associação Renovar a Mouraria, 2015; Vietti, 2015, p. 82).

Mouraria has been one of the most stigmatised quarters of the city often associated with deprivation, urban dereliction and high levels of prostitution, drug consumption and homelessness (Mendes, 2012, p. 31; CML, 2012). These created the conditions for the revitalisation that took place in the quarter with the 1-million euros Programme of Communitarian Development of Mouraria undertaken by Lisbon’s council between late 2010 and 2013. This programme aimed at rehabilitating the urban and social conditions of the neighbourhood, namely through improvements in public spaces, housing and equipments for the youngsters and the elderly, fostering employability, strengthening its civil society organisations as well as improving the overall image and perception of the quarter (CML, 2012).

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A Mouraria é um dos bairros mais antigos e típicos do centro de Lisboa que deve o seu nome ao facto de no séc. XII os Mouros terem ficado confinados a esta área depois de o 1.º Rei de Portugal, Afonso Henriques, ter conquistado a cidade em 1147. A Mouraria é um dos bairros de Lisboa onde o Fado teve as suas origens e sempre foi um bairro que acolheu migrantes ao longo dos séculos: os Mouros no séc. XII, os Galegos no séc. XVIII, os trabalhadores do meio rural nos sécs. XIX e XX, os residentes dos PALOP – Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné Bissau e São Tomé e Princípe – após a independência destes países em 1975 e, nas últimas décadas, pessoas vindas da Europa de Leste e de países asiáticos (Ucrânia, Rússia, Roménia e Moldávia; China, Índia, Bangladesh e Paquistão) (Malheiros, 1996; Malheiros, Carvalho & Mendes, 2012, p. 99; Vietti, 2015, p. 81-82). A ‘super-diversidade’ (Vertovec, 2007; Padilla & Azevedo, 2012) deste espaço urbano étnico (Mendes, 2012, parafraseando Lin, 2011) tem atraídos muitos investigadores urbanos e sociais (Gésero, 2012; Mapril, 2010; Mendes, 2012; Menezes, 2003, 2004, 2005, 2012; Malheiros et al., 2012; Padilla & Azevedo, 2012).

A Mouraria tem hoje uma população de cerca de  6000 people, de acordo com o Censos de 2011 (CML, 2012), e o bairro estende-se por várias áreas, desde a praça do Martim Moniz, uma das mais conhecidas migrantscapes (Gésero, 2012) da Mouraria, até ao cimo da colina, perto do castelo de S. Jorge. A população imigrante representa 24% da população total (um número significativo quando comparado a 9% de média na cidade e 4% de média no resto do país), o que corresponde a 51 nacionalidades diferentes, sendo as mais significativas as do Bangladesh, Índia, China e Brasil, ainda que os membros das ex-colónias portuguesas apropriem igualmente os espaços do bairro, especialmente por motivos comerciais e de trabalho (Associação Renovar a Mouraria, 2015; Vietti, 2015, p. 82).

A Mouraria tem sido um dos bairros da cidade com maior estigma, frequentemente associado a pobreza, mau estado de conservação urbana e elevados números de prostituição, consumo de droga e sem-abrigo (Mendes, 2012, p. 31; CML, 2012). Estes aspetos incentivaram a revitalização de cerca de 1 milhão de euros de vários espaços do bairro através do Programa de Desenvolvimento Comunitário da Mouraria conduzido pela Câmara Municipal de Lisboa entre finais de 2010 e 2013. Este programa tinha como objetivo principal a melhoria das condições urbanas e sociais do bairro, nomeadamente através da melhoria dos espaços públicos, habitação e equipamentos para os mais jovens e idosos, promovendo a empregabilidade, reforçando o papel da sociedade civil e melhorando a imagem e perceção gerais do bairro (CML, 2012).

References/Referências

Associação Renovar a Mouraria. (2015). Apresentação Migrantour Lisboa. [Slide Presentation, 30th April 2015, 90 slides]. Lisboa: Associação Renovar a Mouraria.

Câmara Municipal de Lisboa (CML). (2012). Programa de Desenvolvimento Comunitário da Mouraria – Proposta Final. [Slide Presentation, 19th April 2012, 129 slides]. Ai Mouraria: Requalificar o Passado para Construir o Futuro. Retrieved from http://www.aimouraria.cmlisboa.pt/pdcm.html.

Gésero, P. (2012). O Espaço é o Lugar: O Martim Moniz na Migrantscape de Lisboa. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Número Temático/1: Imigração, Diversidade e Convivência Cultural, 163-184.

Malheiros, J. M. (1996). Imigrantes na Região de Lisboa: Os Anos da Mudança. Lisboa: Edições Colibri.

Malheiros, J., Carvalho, R. & Mendes, L. (2012). Etnicização residencial e nobilitação urbana marginal: processo de ajustamento ou prática emancipatória num bairro do centro histórico de Lisboa?. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Número Temático/1: Imigração, Diversidade e Convivência Cultural, 97-128.

Mendes, M. M. (2012). Bairro da Mouraria, território de diversidade: entre a tradição e o cosmopolitismo. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Número Temático/1: Imigração, Diversidade e Convivência Cultural, 15-41.

Menezes, M. (2003). Mouraria: entre o mito da Severa e o Martim Moniz. Estudo antropológico sobre o campo de significações imaginárias de um bairro típico de Lisboa. Lisboa: LNEC.

Menezes, M. (2004). Mouraria, Retalhos de um Imaginário: Significados Urbanos de um Bairro de Lisboa. Oeiras: Celta Editora.

Menezes, M. (2005). Património urbano: por onde passa a sua salvaguarda e reabilitação? Uma breve visita à Mouraria. Cidades, Comunidades e Territórios, 11, 65-82.

Menezes, M. (2012). Debatendo mitos, representações e convicções acerca da invenção de um bairro lisboeta. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Número Temático/1: Imigração, Diversidade e Convivência Cultural, 69-95.

Vertovec, S. (2007). Super-diversity and its implications. Ethnic and Racial Studies, 29(6), 1024-1054.

Vietti, F. (Ed.) (2015). Migrantour, O Mundo na Cidade: Passeios Interculturais em Florença, Génova, Lisboa, Marselha, Milão, Paris, Roma, Turim e Valência. (J. A. B. Gonçalves, Trans.). Cermenate, IT: New Press, Como.